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quinta-feira, dezembro 03, 2009

náufrago


















descartei a velha bússola
e fecho o olho do norte
não há coisa alguma
que eu possa controlar

as realidades pudicas
já não fazem parte desse paladar
esqueci apenas da face sul
do beco da morte

quando erro o caminho
ainda brinco por lá
gosto do som das garrafas
do deboche da boêmia

asfaltei meus dedos de atirador
tentei sepultar a verve assassina
mas não soube trocar de identidade
nem zerar a ampulheta maldita
guardada no bolso de trás

sigo a sintonia das marés
mas elas mal sabem de mim
pago o preço por não ter mapas
viajar sem destino
é assumir-me desconhecido.

terça-feira, novembro 03, 2009

ilusões de óptica














as taças da bebida verde
dizem que é fogo
os basculantes avessos
falam em vômitos
os homens juram que é sexo
e as moças sonham que é amor

digo que é fumaça

a bebedeira engana
a náusea repele
a jura mente
os sonhos pervertem
a fumaça disfarça

e na bruma
entre espelhos embaçados
seres descolorados procriam
sorrisos desbotados
dispostos em janelas cinzas
voltadas para mundos de chaminés.

sábado, outubro 03, 2009

rotina



nesses dias
confinada aos cigarros
e à solidão acompanhada
não choro
nem me queixo
apenas deixo
meus sonhos
confinados nas pílulas
dispostas nas gavetas
centrais de meus armários
imaginários
fartos de esperar.

quinta-feira, setembro 03, 2009

diálogos com mortos






















fala morta!
solta a gramática
nos palcos
que embalaram-te em vida

viaja em tua barca do inferno
rumo ao purgatório
ou envolta-te de redenção

que nas alegorias lisboetas
das obras de Gil Vicente
que tanto encenaste
gritam velhas e ninfetas
à procura de teus olhos castanhos

absoluta em tua glória
fala, Cacilda Becker!
que não ousaria definir-te.

segunda-feira, agosto 03, 2009


antes que digam-me
que o erro é amar
rechaço com liturgia
que me falta

quem há de merecer
mais o céu que as putas?

elas subordinam-se
ao segundo mandamento
como ninguém.

sexta-feira, julho 03, 2009

sobre o medo de chorar















odeiam que misture primeira
e terceira pessoas
mas é vício, isso é sexo, baby

porque chorar gotas de tinta
e sentir a garganta fechar
ao cheirar flores mortas?

já não há concretismo aqui
e onde habitava uma atéia
há hoje uma etérea
não sabe deixar ninguém esperar?

espero, desfacelo-me,
sufoco
e ainda guardo
lágrimas de Pollock.

quarta-feira, junho 03, 2009

canto






















abri os olhos no canto
na sombra estrangulada
e com o rosto encoberto
pelas mãos não oro

as sombras dançam
pelas frestas do desconhecido
máquinas modernas contrastam
com medos ancestrais

o móbile do berço gira
como ponteiros que rogam
pelas portas doutro dia
sem amanhã

as pragas tomam o real
demônios não fogem mais
e meu filho único chora
esqueci as cantigas de ninar.

domingo, maio 03, 2009

















a chama da aparição
ainda queimava
e a pele rubra
lambia-me

ventre e existência
em farrapos

a fumaça atravessava-me
feito besta-fera
galopava em olhos
vidrados que refletiam
a carga do fenecer e vagar

na leveza da dor flutuava
pálpebra, olho e caos.

sábado, março 14, 2009



enquanto nervosos corpos
sedentos mal saciam-se

línguas infectadas
de candidíase
e de espórios alheios
vingam-se em
sífilis
gonorréias
cancros moles
e herpes

que das vontades venéreas
não sobram nem a culpa
de serem transmissíveis.

terça-feira, março 03, 2009

sobre chá e colheres

deslumbrado com a passividade
com gravidade do aroma
com a pureza da água
na febre de folhas e flores mortas

o chá esfria

desinteressado do universo
ou do verso paralelo
não cabe nos dias
ou tão pouco se ilude em horas

o chá esfria

diluído em xícara
surrado por colheres
da direita para esquerda
decanta visceral

são cinco horas
e está tudo bem.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Musicaram poema meu!

antes chorar
definhar-me em rosários
e hóstias bestiais
de meus pensamentos impuros
em ti

mas não há lágrima
há fúria e desencanto
rasgo-me em devassidão torpe
e condeno-me à loucura inerte
aqui

sorrio como Salomé
debochada e despudorada
enquanto o largo das apnéias
teimam em tirar-me
o ar

respiro-te
inspira-me
tão distantes
tão entregues
sós.



http://www.youtube.com/watch?v=jjmOTlfrZ6Qhttp://www.youtube.com/watch?v=ffbdW1IDd8Y
http://www.youtube.com/watch?v=F4Z5g9lD9cY

terça-feira, janeiro 06, 2009



boneca de trapo

pode-se ver
que é feita de farrapos
e recheadas de teorias
filosofias alheias
e ensaios inacabados

tem pouco tato
dedos grudados
numa só costura
sem divisão

traz olhos de vidro
que pouco ou nada veem
pensamentos embuchados
numa mente de algodão

não ouve bem
fala menos ainda
a boca é um misto
de Marylin Monroe
Edie Sedgwick

na imaginação infantil
brinquedo divertido
na verdade adulta
voraz carranca

a realidade e ficção
são uma só boneca de trapo
porta sem tranca
vista de lados opostos
por ignorantes sem visão.

(fotografia original: boneca de trapo

pode-se ver
que é feita de farrapos
e recheadas de teorias
filosofias alheias
e ensaios inacabados

tem pouco tato
dedos grudados
numa só costura
sem divisão

traz olhos de vidro
que pouco ou nada veem
pensamentos embuchados
numa mente de algodão

não ouve bem
fala menos ainda
a boca é um misto
de Marylin Monroe
Edie Sedgwick

na imaginação infantil
brinquedo divertido
na verdade adulta
voraz carranca

a realidade e ficção
são uma só boneca de trapo
porta sem tranca
vista de lados opostos
por ignorantes sem visão.



(fotografia original: http://www.flickr.com/photos/xkalokax/2192536178/ )