Pesquisar este blog

sábado, agosto 04, 2012

a menina que semeava papoulas

























suas mãos passeavam dentro do saco se papel

cheio de sementes negras que mais pareciam

bolinhas miúdas ou pequenos ovos de inseto

e elas esvaiam-se entre os dedos feito tempo

jogava ao solo aqueles pontinhos pretos

como se fossem pontos finais

esperando milhões e milhões

de minúsculos recomeços

e sob visões de pupilas dilatadas

aquela criatura caminhava em campo aberto

o vento arrastava suas saias e ela se divertia

como uma besta fera sorria estridente

seus pés avermelhados pela terra

afundavam no morno que o sol deixava

e a vida dentro da própria vida era surreal

as sementes eram bombas sobre o chão arado

as mãos devotadas ao prazer despretensioso

do toque daquelas minúsculas cápsulas

refaziam incessantes os movimentos

de captura e liberdade suprema

mal sabiam da colheita.

Nenhum comentário: