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terça-feira, dezembro 24, 2013

o Narciso e a estrela


reflito-me no lago
como se Narciso fosse
e fossilizada nesse
brilho reflito fria
nada pulsante, vago

ele lambe e beija
sua própria luz
refletida em eco
mal me vê perdida

sob o derradeiro
feixe declara-se
ao seu reflexo
iluminado e cego

quantas noites sem lua
estarei no lago
à espera de um único
e lascivo olhar?

segunda-feira, novembro 25, 2013


musa morta

ele finge para não delatar-se
e sob a musa seminua
o carrasco impera
como quem sente mais
que deveras sente
sustenta o soluço
quase não

segunda-feira, outubro 21, 2013

acefalia lancinante




o amor híbrido                          
perdoa-me
as asas


visão turva
desse riste
retirante
vínculo
que insiste
abandonar
ninhos

terça-feira, outubro 15, 2013

querido missionário




deixai essa cercania voraz
não permita que eu te engane
meu olhar triste e falsamente vencido
só escondem a tez canibal

as pupilas bem trazem o belo
bem trazem o zelo
e arfam-se do autêntico
perfeitamente aprazível
venha me visitar...


oh, menina da ilha
não tome palavras de Eliot
para me agradar
nessa batalha fascinante
que caminha em nosso
descansar prazeroso...

domingo, setembro 15, 2013

nostalgia


a imagem de teu corpo
não me fere mais como antes
mesmo que a morada inerte
insista em gritar

o espelho da cômoda
reflete meu olhar nocivo
foi-se o tempo que esperava
trago o cigarro entre os dedos

é tudo que preciso

há um certo brilho na caduquice
como se o esquecimento fluísse
pelas veias cansadas e sonolentas

não há mais o alvoroço matutino
não há mais o revoar vespertino
e a noite desce lenta.


quinta-feira, agosto 15, 2013

a visita do poeta


foi numa tarde de quarta
poucas horas
mais que um livro
dono de olhos opacos
como que insatisfeito
tinha poesia nas mãos
bem mais que um livro

e ficaram as palavras apenas
e a indagação
do que eu olhava
ficaram as palavras apenas
naquela casa simples
de piso frio e dedos mornos
a visita do poeta
deixou-me poetisa
bem mais que antes.





um suspiro de Eliot




minha cama, como um leito altivo
macia e quente, sustentava o teto
em coroas de espelhos
e entre elas Eros nos olhava
(e as Ninfas coravam sob seus véus)

sim, sei que parece onírico
pouco, quase puro, nada pudico
os olhos não se abriam
as mãos não se fechavam
e seres deflagrados expandiram

não sei quem é meu amante agora
não me interessa nada mais
Eliot só me sussurrava ao ouvido:
"DEPRESSA POR FAVOR É TARDE
DEPRESSA POR FAVOR É TARDE"

segunda-feira, julho 15, 2013

atemporal


os segundos suspensos
soam horas infindas
e passou pelas portas
estreitas que sustentam
meu átrio

como sair ilesa
de seus olhos
como guardar a ânsia
dos cinco minutos
se eles folgam horas?


sexta-feira, junho 14, 2013

a sombra


alguma coisa me persegue
roubando o melhor de mim
cobrindo minhas pegadas
sussurrando meu fracasso
e o desgosto já esperados

ri e zomba como se para sempre
me segue feito passado a assoviar
quem há de acreditar num imbecil
quem há de acreditar em um bêbado
que se entrega a qualquer derrota?

olho para trás e ela ali
é a única que não desiste
vê todos os meus passos
sem se comover
e não me deixa dormir

diz que sou um hipócrita
mais um infeliz sem saída
um maldito mentiroso
que por vezes se precipita
e já não quer continuar isso

não peço nem que
acredite que não sou louco
mas a figura está a me assombrar
na boca da noite, antes do porvir


quarta-feira, maio 15, 2013

contenda


não tema esse coração ressentido
nem me odeie por sentir tanto
algo tão imperfeito como a paixão
sem a sua temperança constrita

é sim, uma droga de barca
é sim, uma droga de vida
mas leve pela contramão
você foge do que me excita

amo esse calafrio que percorre
a medula por centenas de vezes
e segue fugindo dos monstros
que cultuo em meus ritos

amanhã serei comida de verme
ouso em perímetros de ousadia.
não almejo ser musa da perfeição
e essa sua falsa índole conheço de cor


segunda-feira, abril 15, 2013

Candy



"Candy, candy, candy, I can't let you go
All my life you're hauting me
I loved you so" - Iggy Pop


se o mundo de vilanias apraz
nem imagina o que senti
independente do que vê aqui
só se afasta mais e mais
debocha, recusa e ri

por tempos reinventei
e sufoquei você na solidão
nessa noite como tantas iguais
entregar-me-ei a outros braços
a outros vícios

eles me tomarão vezes e vezes
me enganarei como quem se dobra
sob seu aroma mais uma vez
quanta ilusão

foi tão doce ao me destruir
ao devastar meus latifúndios
agudou-me inúmeras sensibilidades
que das farturas morro à míngua

deixou-me devota de sua língua
reduziu-me a pó
e saiu de mim para destruir
outras cercanias

sexta-feira, março 15, 2013

casca


se gritar meu nome
com voz ocre
e fingir que não ouço
deitada sob seu peito
agudo e só, não me culpe
o silêncio é fardo
das dores que trago
como os golpes
que me infligira
ainda em seu ventre
por não chorar me calo
antes que me estupre.


sexta-feira, fevereiro 15, 2013

corrupta



aceita interpretações
acata mitos
desbrava linhas
subverte as certezas

delibera intenções
mal obedece ritos
ela não é minha
e traz suas vilezas.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

estátua de sal





















a imagem endurecida
mal chora trancada em si
na esperança de se achar

[calo]
trago aqui
cada palavra
cada respiração
cada som
toda a sensação
rubra, rubra, rubra

[vem]

e que minha retina
te cubra ainda dilatada
e que seus poros
jamais se esqueçam

[garoe]

que teu sorriso
me é bastante
enquanto molha
meu corpo


[vê]

que não há limites
entre o que é nosso
que a loucura é sã
enquanto unos

[sente?]

terça-feira, janeiro 15, 2013

abnegação




entendo que tudo sucumbe ao fogo
quem poderá dizer antiga lama
que habita esse corpo
tão nobre linho e rasgada fama
encobre o pecado sem sorte alguma
entregue a homens tortos
de olhos ocos sem fortuna

aceito que tudo sucumbe ao fogo
além do vazio da alma
e do flagelo da carne
o silêncio habita no tutano do osso
trazendo caos e fúria
para quem vivia na calma

entendo que tudo sucumbe ao fogo
vi a salvação em seus olhos mouros
que no vazio inerte lambiam meu riso
roubavam meu couro
silêncio, vício e ócio

em nossa cama
aceito que tudo sucumbe ao fogo
um corpo ferindo outro
pela luxúria de ambos
e ambos se deleitam
tecendo fúria e corte
pelo prazer do escambo