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quinta-feira, novembro 06, 2008

limítrofe

devotei-me à traição
e amo-te em mosaicos conflitantes
resisto ao seu querer
e persisto dissociada
em dúvidas e orgias ficcionais
extremos passionais

soul-te inteira
sem limites tênues
errante e impulsiva
idealizo tudo
a crença utópica
do endeusar pagão
dilacero-te e peço-te
não me deixe morrer só!

sexta-feira, outubro 10, 2008





















digam-me onde há glória!
quero Glória, em pires
ou dentro de latinhas
de cerveja
para consumo imediato
ela me enlouquece
embriaga e engana
fode-me por ter
credibilidade

depois do Katrina
ou que nome tenha
o furacão-menina
seja na janela
ou na latrina
o cuspe, o vômito
e o gozo renovam-me

e se existe glória nesse mundo
quero-a assim, com nome de mulher
quero foder Glória!
e toda sua história
mentirosa e infame
com sotaque de redenção
e acompanhem-me os coros de
“Glória, glória, aleluia
glória, glória, aleluia!”

domingo, outubro 05, 2008

é aborto de verso e de filho

é aborto de verso e de filho
é sangue de plástico
e de paixão

é saco plástico
e coronária

papel e carne
presos na palavra
de verso concreto
de tijolo e pedra

é veia e intento
presos no útero vago
de uma prenhes
finda.

sexta-feira, setembro 05, 2008



recado público

quando redefinir teus poros
catalogar fracassos
tentativas frustradas
vômitos vazios
por falta de fome

e enfim assumir
o beijo seco e parco
pela gula que tinha-me

procura-me nos classificados
de domingo!
é lá que publico
erroneamente, meus olhares
desprezados

encontre artigos por meu nome:
Diva Etérea Estéril Doidivanas e tua.

quinta-feira, setembro 04, 2008

vinho versus tinta


vinho versus tinta

se tivesse ao menos uma razão
confrontaríamos os versos
a reboque

nessa noite sem lua
que te fará
parto inválido
na querência do fundo

talvez fosse de um sorriso
a dor que nascera sem par
e etílico vicio
a tensão lacerante

confesso-te inconstante
que amei-te
por míseros trinta minutos

e agora que defunto
talvez use essa ida
pra causar mais
alguma ferida

debaixo de meu seio
a morte impera
nas coronárias do ser
que quase viveu intacto
e não sobreviveu

vinho tinto versus tinta
tintos versos.

segunda-feira, julho 28, 2008



galope

alforriado
cavalguei o tempo
sentindo o vento
da ignorância no rosto
infantil

já não sou inocente
e não acredito em liberdade.

terça-feira, maio 20, 2008




as ampulhetas têm furos
por onde vazam
grãos finos de areia
qualquer hora,
terei que revirar

em algum momento
estarei vazia de mim
e cheia desse nada que consome
animas humanas

é como me sinto
um embuste dentro
de tantos outros
sou ampulheta de vidro
olham-me e não me vêem.

domingo, maio 04, 2008

acendo cigarros para
vê-los queimar
deixei de me avisar
dos perigos que rodeiam
os que não oram

sou ateu e pagão

e esse muro enorme
é duro e discreto
e seus tijolos vermelhos
só servirão
todos de arrimo
para chocar-me com eles
até virar concreto.

quarta-feira, abril 30, 2008

íntimado

(para meu íntimo amado)

toma-a íntimo
por não ter
a dor de amador
ah, meu!
ah, tão teu!
que não toma
o id que me doma
a dor que me toma
ama-a
meu íntimo amado
íntima dor!

domingo, abril 27, 2008

já que os silêncios
aprofundaram-te a fala
que jaz, introspectiva
rogo que consiga eu me calar

pois não há por que de escrita
se não há ninguém para
interpretar

agasalha-te nesse ostracismo
forte e vicioso
que é ele que cabe
aos fortes de espírito
e sedentos de saber

fura esse engano torpe
que ilude os tímpanos
e alivia as dores

devassa as incondições
humanas
de enfrentamento da dor
e cataloga as incertezas
que habitam em tuas retinas

quem sabe daqui há dois mil
anos luz
descubram
Homo Sapiens sentimental
e comovam-se pois não passaria
de um homem-de-neandertal.

quinta-feira, abril 17, 2008





“O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter.” - Jean-Paul Sartre

autodestruição

desejei o submundo
o cais do porto
a maresia que guarda tudo
o cheiro da morte

faltou-me o nome
sobrenome, pão
memória e costela
e ainda quis o desterro

destruí minha retórica
remoí minhas vísceras
e servi no jantar
com vinho barato

venéreo, contaminei algumas
virgens astutas
doces prostitutas
e carolas malamadas

desfolhei cadernos
anotações rasas
versos nulos
para amores vãos

e só tenho o que não quero
palavras falhas
mãos calejadas
e pensamentos execráveis

a vaga lembrança
que resplandeci
talvez amei, não sei,
já faz tanto tempo

antagônico aos desejos bobos
quereres utópicos, ouro dos tolos
almejei apenas ser sozinho
e não sou.

sexta-feira, abril 11, 2008

visagem




estes olhos
vendados em fuga
sem saber para onde
não têm porque

lajeados perdidos
em telas brancas
sob pincéis ásperos
e pouca tinta

em bocas desdentadas
recitam asco
fraquezas e taras
macias e aleijadas

vivem paraísos ilusórios
e pintam paisagens cinza
com a fumaça da metrópole
truculenta e assassina

adornam lagos e rios
com pontes inúteis
e caminhos fúteis
deixando de ser

percebem, enfim,
que nada mais os afeta
seja o silêncio
ou a palavra que execrada

tudo é questão de amperagem
ou gerarão força motriz
e perdendo-se em intensidade
ou serão graxa de engrenagem.

quarta-feira, março 26, 2008



balada da mulher cansada


manhãs douradas
que não suportam
o peso dos ombros
de uma proletária
da fábrica e dos amantes

a escrava da balança
a herdeira da pobreza
sem força para ser bela

solitária
entre o caos concreto
e coágulos de vida

não alimenta o céu
nem amamenta
e acalanta o dia
dorme no metrô

mas não lembra dos sonhos.



(fotografia e poema de minha autoria protegidos pela lei de direitos autorais)

sábado, março 22, 2008




hoje é o dia
de minha libertação

deixo as letras
cansei de me explicar
aplacada
por minhas incertezas
e meus signos tortos

cravo-me no silêncio
visceral

não há palavra
só há insatisfação
não há realidade
apenas interpretação.

(imagem e escrito protegidos pela lei de direitos autorais)

sexta-feira, março 07, 2008



equilibro-me entre o caos de teu rosto e o abismo

em teu rosto
não basto-me
nem em tuas sombras infinitivas
e pálpebra intuitiva
caída no regalo de meu ser
talvez por definir-me
tão crua e improdutiva
quem sabe seja
em minha ânsia
por querer demais.

no abismo sóis infinitos
lembram-me que sou noites em claro
passantes apressados
pisam sobre minha aparente calma
edifícios altos
e vazios imensos
apontam-me quem sou
sons distorcidos
destoam de mim
estou palavra cheia.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008



entranha contaminada da chaga
que a língua toca e o verbo deteriora
num furúnculo cancerígeno
que resguarda o dano ferido

colchas medidas em fardos doentios
em pestes que arregaçam as artérias
és pigarro verminoso, pus vigoroso
que lateja, lacrimeja e invade as narinas

tomas o feto e a cura
do mal que nem
supõe existir

silencioso beija a carne viva
tomando-a em mordidas nocivas
gangrena altiva que atrofia em redenção

cada mancha inválida
cada lampejo pendular
não se sabe se ávido
ou se pálido

tudo pende ao ambíguo
o epílogo do começo
o alvorecer do fim.

terça-feira, janeiro 15, 2008




o silêncio que precede o gozo

sua expressão
chorosa
mal suporta
o pulsar de de teu desespero

palpita entre dois mundos confusos
tênues, obtusos,
frágeis e necessitados de si

asas pares
em vôo rasante
rumo ao infinito incerto
desagregadas e tuas

vidro
pedra
sombras

nativas ativas, vãs,
voam
.