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terça-feira, fevereiro 28, 2006

As águas como as mágoas
Passeiam pelas anáguas
Das moças da cidade
Que vertem seus olhos
Aos rios que nelas deságuam
As águas como as anáguas
Entregam-se aos igarapés
Encharcam-se de mundo
Mergulham até o fundo
Para voltar à tona
Secam.
As mágoas e as anáguas
Apertam as carnes
Sufocam a alma
Por que tudo que queriam
Era não existir.
Agradecimento especial ao fotógrafo André Augusto Braga pela autoria especial dessa foto, cedida gentilmente para este blog.
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sexta-feira, fevereiro 24, 2006


Uma lágrima de compreensão desce frágil
Do lado esquerdo do rosto
Silenciosa, relutante e aflita.
Percorrera a face rosada
Que ainda inconformada
É tomada pelo rubor.
Cansada pousa ali
Até que outras venham ao seu encontro,
Para dar-te força,
Dar-te profundidade,
Dar-te compreensão.
Até que pesem o bastante,
E caiam,
Como as verdades reunidas,
Na aceitação do inevitável.
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Estou cansada de tudo
Inclusive de mim
Se pudesse arrancar-me
Embolar-me,
E jogar-me na lixeira mais próxima
Eu o faria,
Risos,
Mas não posso
Não há lixeira
grande o bastante
Para a porcaria
Do século vinte.
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Estou distante de tudo
Fito o teto com o olhar morto
Sigo meu instinto torto
Por um segundo, deitado no meu sofá felpudo.

Cinzas breves, boca, cigarro,
Viajo na fumaça, no pigarro,
Vago entre o imenso e o nada
Entre o acostamento e a estada.

Farto do governo, da falta de dinheiro,
De não ter a vida que sempre quis
E estou vivo nessa inércia o dia inteiro
Enquanto o desemprego me incomoda e assola o país.

Enquanto fumo o tempo passa
E me sobra o despeito, a fumaça,
E a constatação da massa
Que vive nessa maldita desgraça.
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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Quando se é verde
Não percebe-se a malícia,
O amargo do mundo.

Quando criança,
Espiava da janela
Translúcida do quarto.

Tinha esperança
De ser feliz donzela,
Ser contente de fato.

Num momento qualquer,
Em que o sol se escondia,
Num quarto de mulher,

Vi uma figura estranha,
De olhos arregalados
E medo nas entranhas.

Fiquei receosa, pois seus olhos
Eram apenas angústia,
Ânsia por algo perdido,
Jamais encontrado.

Naquele momento nada entendi,
Mas hoje sei
Que foi a mim que eu vi.
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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

A cidade ferve em faróis
Valerá à pena ser veloz?
E tão concreto?
Onde será o rumo certo?
Para onde ir?
O que levar?
Em que acreditar?
Mentes hipnotizadas
Acalentam sonhos vãos
E corpos cansados do dia
Almejam a solidão
Visões poéticas
Desnudam a escuridão
Sob a luz fraca
Escondem-se placas
De sinalização
Titubeante a vista
Mais uma vida
Arrasada numa curva
Numa colisão.

Agradecimento especial ao fotógrafo Otávio Augusto Marin Martinez, que cedeu gentilmente a imagem.
O site do fotógrafo Otávio Augusto é:
visite!
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terça-feira, fevereiro 21, 2006


Fragmento urbano

Fragmento humano
No meio do concreto urbano
Nas estradas negras
Tumultuadas e cheias
O homem caminha só
Entre a fumaça e o excremento
Num céu púrpuro, quase cinzento.
Fragmento urbano
Injetado nas veias entupidas
Pela violência estúpida
Provocam a estagnação do movimento
Meninas violadas
Tarjas pretas de luto
O tédio e a solidão são absolutos.
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Ah, aquele tempo que não volta mais
E essa saudade iludida
Que teima em angustiar-me
Que volta do mar do esquecimento
Em ondas espumantes no mar
Em brumas flutuantes no ar
Ah, essas lembranças que não me largam
E alagam meu peito
Com o saudosismo de outrora
Que vingam agora no descontentamento.

Ah, aquela carcaça náufraga no oceano
É preciso ir fundo para encontrar-me
Fragmentos do que um dia fui
Cacos de um ido e submerso
Passado feliz
Pedaços de um eu que não sou mais
Ah, esse tormento que me persegue
E que logo me esqueço
Pois a saudade e a dor vêm e vão
E vagam agora no meu esquecimento.
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Belo é o belo,
Que cada um tem,
Que cada um tem o seu,
Tão seu,
Que chega ser feio ao outro.
Belo que te quero,
Que nem seja verdadeiro,
Mas que seja meu,
Belo é o belo que sonhei,
Belo é o belo que te quero bem.
Belo que é pra mim,
Feio pode ser para outrem.
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domingo, fevereiro 19, 2006


Equívoco
O amor não é nada mais que a escassez
De outro sentimento
Para explicar um momento
De grande abismo; estupidez.
O que é o amor sem data marcada,
Sem altivas falésias formadas,
Num tormento,
Na invalidez.
E o que seria desse sofrimento
Se não houvesse o contentamento
Da pessoa amada,
A sensatez.
E o que é o amor, senão
Peregrina ave que voa,
Que todos os corações povoa,
Que não se prende à toa
E não se afasta em vão.
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Caia a noite!
Caia sobre as colchas de quem dorme
Permeie os sonhos com o albor onírico,
Com prazer eterno
Num sonho efêmero,
O gozo veneno
Num corpo moreno
Ao som dos cantos sacros
Oh, negro véu que arrebata
As últimas gotas de sol
No horizonte,
Caia sobre os ombros de quem ainda
Está de pé,
Caia sobre os seios da mais
Linda mulher,
E faça com que seu êxtase
Seja infinito,
Como o imenso Universo sombrio
Que envolve a vida e a morte
Num laço ínfimo e eterno
Noite da vida,
Na vida de morte.
Manhã que tarda,
Manhã que não vem,
Noite caída nas coxas medidas
Nos sonhos obscenos
Segura nos ombros serenos
Descansa, em seios incandescentes.
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sábado, fevereiro 18, 2006

O beijo

O turbilhão de tua língua
Toma meu sexo intenso
E meus olhos se fecham
É dia na noite escura
E meu corpo queima como fogo
Gemidos abafados
Gozo
Harmonia.
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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Exala de teu corpo a podridão que nele sempre habitou
E entorpecido o universo se cala diante da comoção larval
Evocando a escuridão de cada confim cósmico
Para tomar o ventre do moribundo
Para a adoração derradeira do maldito
Choram tuas mulheres, e tuas crianças,
Enquanto um último calafrio percorre-lhe as carnes
E um amargor profundo toma-lhe as vísceras
E em momento extremo rende-se a compaixão mórbida
Exaurido e inválido cai.
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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Réquiem

Os edifícios cortavam a paisagem densa
Os olhos febris de verão queriam vento
O verde, a mata,
Em algum lugar falavam de fogo
Da fuligem, do mormaço,
Nas janelas embaçadas
Desce úmido um gemido
De dor, de revolta,
A vida era aquele gemido
Remido em sua carne
Banido em qualquer conto
No abrir e fechar dos punhos,
Logo chegaria mais uma noite
E o concreto de um cinza completo
Tornaria-se reluzente,
Com os dedos finos
Ascenderia mais um cigarro
E desenharia no ar com sua fumaça,
As cinzas beijariam o firmamento,
Não tinha respostas
Mas ainda sim a dor indagava
E no jornal o negro estampado
Os olhos lêem o crepúsculo de ontem
Um réquiem deste opúsculo.

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sábado, fevereiro 11, 2006

Meu dicionário interno me tortura
Guarda vários vocábulos
Mas eles só se dobram
E se calam
Por que os dias nascem tão cedo?
E essas palavras não se libertam?
Estão presas em meu ventre absurdo
Causam-me ecos n’alma
E nunca o silêncio fez tanto sentido
Nuca meus olhos estiveram tão secos
E minhas mãos tão vazias
Temo que elas saiam
De meu regaço ferido
E desatem todos os meus elos com a razão
E façam-me em pedaços
Mas que deixem por fim, meu olho esquerdo,
Que abriga meu sarcasmo corrosivo.

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terça-feira, fevereiro 07, 2006


Cai a chuva compondo sonatas
Mas ao invés de respostas
Vem a chuva, os pingos d’água,
Que, todavia,
Aumentam o tormento
E alimentam a ilusão
Mas o homem sobrevive a tudo
E quantas vezes ele suspira
Por amor ou por ironia
E caem cristais sonoros
E na’lma se abre o vazio.
Por quantas vezes se recita
Um poema sem sentido
Que é ferida do poeta
Não do leitor.
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Cada sentença imensa
Do meu passado torto
Faz-se presente
No momento de dor
E é incessante o remorso
De tudo que não fiz
E do que não faço e posso
Mas a insanidade
Impede a lucidez.
E cada sentença imensa
Do meu passado torto
Faz-se presente
Em cada minuto iminente
Do meu futuro incerto
Em cada segundo morto
Do meu passado torto
É intento e faz-se dor
Em meu arrependimento.
Cada sentença imensa
Do meu passado torto
Faz-se presente
Nessa vida fútil
Nesse agora vazio
Nessa hora passante
Sem progresso pensante
De esse ser ruminante.
Cada sentença imensa
Do meu passado torto
Faz-se presente
Em lamentos.
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Talvez ainda se lembre
Da casa velha
Que a gente observava
Da nossa janela.
No crepúsculo, nossas visões
Turvas ainda fitavam o alvo.
Era tão simples
E ao mesmo tempo tão bela,
Talvez por isso nos fascinava tanto.
A rigidez de nossos músculos
Não nos afetava,
Pois era uma imagem pura, singela,
Cavalos pastando em sua frente
O capim verde,
Víamos o nosso passado e nosso presente
Naquela casa, por aquela janela.
Resta-me apenas uma dúvida
Eram nossos sonhos
Paralelos ou concorrentes,
Pois jaz o sonho
E nossa realidade
É uma sina complexa.
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As nuvens teimavam em pintar o céu
E o vento oscilava entre teus cabelos
Negros e brilhantes como a noite
Que habitava teu corpo
Olhos fechados, imóveis,
Em tua cabeça arrancada
De teu pescoço.
Gentis as mãos pousadas
No chão frio, sem os braços.
E os pés dilacerados
Um para cada lado
Soltos de tuas pernas.
Enfim era uma cena encantadora
Um mar de sangue alheio
Mas já havia te avisado
Que eu escolheria a minha hora
Pedi que não tentasse me levar
Por que era tão insistente
Por que não foi embora
Apenas me vinguei de tuas mãos
A me sufocar
De suas pernas a me apertar
Dos teus cabelos a me cegar
Mas ainda perdura a dúvida
Quem era a bela,
A paixão ou a morte?


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Confidências

Não consigo amar alguém sem
Ser possuído por uma dor imensa,
Depois que tudo acaba.
É uma dor profunda,
Quase tão grande
Quanto o universo.
Queria amar alguém
Que me respeitasse
E que não houvesse
Motivos para pedir
Ou agradecer.
Que o amor cedido fosse
Meigo e marcante...
Que a doçura dos nossos momentos
Superasse a dor do meu tormento
E que esse alguém ficasse tão feliz
Com minha presença suave,
Que seus olhos brilhassem até o infinito
Num brilho equivalente as estrelas.
Queria amar alguém que me possuísse
Com tamanho fulgor,
Que até os anjos, em confidências,
Sentissem inveja do nosso amor.
Queria amar alguém que fosse
Apenas inesquecível
E que esse amor não fosse tão somente forte
Mas sim, capaz de superar
As forças do céu e da terra.
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Braços e pernas cruzados
Num imenso emaranhado
De confusos tentos e brados
O corpo em fuso, embaralhado,
E a tortura de não saber
O que fazer
Com esse dínamo a aquecer
O peso ambíguo de viver,
A contradição das coisas
A contraposição dos fatos
A ação pela degradação
Construção pela destruição
A enfadonha arte,
Enfadonha,
De divagar pela vergonha
Até que se interponha
O senso, a razão,
Braços e pernas cruzados
Sem ter a solução.
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segunda-feira, fevereiro 06, 2006


Depois da sede inquieta, a saciedade,
A aceitação, o último confronto brando.
Como se essa calmaria fosse verdade
E essa ânsia derradeira fosse só entrando

Onde as tragédias antes esquecidas
Eram lançadas, trancadas, silenciadas.
Mas naquele calabouço soavam ecos
De uma alma agonizante por séculos

Que apenas se esqueceu de si mesma
E ainda vive, quase morta, mas vive.
Vá morte me leve agora, sem demora!

Leve-me, que não quero mais sofrer,
Não, não me leve quero ainda viver,
Quero ser o guerreiro que fui outrora.

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Disseram-me sempre
Dorme com os anjos minha filha
Por saberem que os anjos são eunucos
Pobres, esqueceram-se,
Que ainda lhe sobram as mãos,
A boca e seus pensamentos...
Venham meus anjos tortos
Que nessa noite de lua
Não dormirei só.
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Esquecida, sob o poder do ópio,
Ou enfeitiçada por mandingas
De alguma mal parida
Finei com todos os pudores
Aos pés do santo altar comercial
Quanta hipocrisia,
Não há nenhuma poesia
Que não seja luxúria.
Braços em corpos,
Mãos e bocas nos seios
Outras nos meus pés
Línguas me tocando
Dentes me mordendo,
Sexos me invadindo,
Ombros despidos, mordidos,
Tomados pela devassidão
Não há amor, há paixão.
Existir, somar, subtrair, multiplicar,
Inserir, acoplar, curva-se, desejar.
Errante, liberta, sou partícula,
Ora sólida, ora líquida,
E naquela aura densa, vaporosa,
Dilatava-me onírica.
Acreditava em tudo,
Enquanto abraçava o vazio.
Dedos, mãos, bocas, línguas,
Palavras tão minhas, dentro de mim.
Não há poesia que não seja luxúria.
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Faça uma prece
Para pedir o que quer
Para ter o que precisa
Para proteger seu filho.
Mas pergunte para um homem velho
Por que não consegue dormir a noite
Tenha coragem de sair de linha
Jogue-se na vida,
Ou deixe seu coração na “Terra do Nunca”
Onde não vai crescer
Onde não vai sofrer
E não se olhe no espelho
Para o tempo não te alcançar.
Mas se olhar não fite seus olhos
Que poderá ver tudo que odeia.
Odeie-me, odeie-me.
Sou a sua realidade.
Faça uma prece
Para um suposto “Deus”
Afastar te desse cálice,
Mas se não te afastar
Olhe-se no espelho
E verá que eu sou você
Sou sofrimento, sou a dor,
Sou a guerra, sou o ódio,
Sou você.
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Poema de 16 de abril

Onde estará agora?
Sob flores de um martírio?
Debulhando lágrimas no vazio?
Onde estão os choros?
Onde estão os lamentos?
Onde estão os olhares?
Onde estão os soluços?
Onde estará agora?
Sob véus de boas vindas?
Ou canções de despedida?
Como estará agora?
Porque o sol não brilhava mais?
Porque as rosas não têm mais perfume?
Porque as nuvens não corriam mais?
Porque só brilhavam luzes fúnebres?
Porque só despedaçavam as rosas?
Porque só correm as lágrimas?
Onde estará agora?
Como estará agora?
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O canto do cisne

Milhares de imagens passaram por minhas retinas
Da mais crepuscular e negra
Á mais pura e cristalina
Do fogo do inferno ao frescor do mar
As gaivotas voando raso
Embarcações náufragas
Frágeis como vaso, inundadas,
Como minhas pálpebras,
Animais ruminando nas colinas
Plantações de trigo.
Ouvi a cantiga doce das meninas
As hienas correndo pelo deserto
Senti em teu corpo meu pequeno abrigo
Nenhum som além do vento,
Silêncio...
Caminhei por um sonho certo
E sonhei com imenso intento
E de olhos cerrados vi a morte chegar
Em teu corpo inóspito
E no coração quieto
O ultimo beijo, lábio seco.
Incontáveis sons permanecem
Em meus ouvidos
O clamor da mulher amada
O tambor silencioso do teu peito
O fervilhar dos pássaros, em revoada,
O suspiro do mar
O borbulhar das ondas, compassado,
O murmúrio do mar
Chamando-me para dançar,
E finalmente o canto do cisne
Um canto aflito
Num som impar
Compreendi que a partida é inevitável,
E que o derradeiro canto
É o mais bonito, inigualável,
Entendi que para sempre partiste.

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Abraço o silêncio com desespero
Como que para que não escape, e peço,
Seja meu amante, apenas essa noite,
Tome-me em teu seio
Pouse sobre meu corpo vazio
Derrame-se em mim como cálice de vinho
Embriague-me nessa tempestade furiosa de desejos
Sufoque-me com seu júbilo
Tire-me as forças, as palavras,
Conduza-me ao esquecimento visceral
Espere que a humanidade cale-se
E possua-me novamente
Com carinho e fúria me faça tua
Percorra meu ser, compreenda-me,
Satisfaça meus anseios.
Neste momento sacro não quero ser poeta,
Nem tua musa, quero poder ser apenas eu,
Despida de pudores, de falsos amores,
De penas vãs, de gozos esquecidos.
Quero que me inunde de ti até meu âmago,
Como se fosse humano
E toma minha alma como entidade eterna
E quando vier o grito da aurora
Vá devagar, deixe meu delírio te levar.
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Inocência

Brincava com o vento indeciso
Não pensava em solidão
Não pensava em destino
Tinha todos os sonhos
E cantava com o vento...

Brincava com o vento indeciso
Não pensava em hora
Não pensava em morte
Tinha todos os dias
E sonhava com o amanhã...

Brincava com o vento indeciso
Não pensava em furacões
Nem em tormentas
Tinha todo o querer
E queria crescer...

Já não brinco com o vento
Já não ouço sua voz
Já não corro mais
Cresci, mas minhas raízes são profundas,
Meus galhos duros e secos.

Já não danço mais
Já não me entrego
Já nem quero mais
Estou cansada de tudo
Até de almejar a paz.
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Incansável dançava a bailarina
Como se o tempo não passasse,
Como se sua alma não morresse,
Como se não fosse sua rotina.

A tristeza agitava a massa de carne cansada
Sentia suas mãos comprimindo as narinas
Complicando a respiração já fadigada
Ouvia atento a toada das meninas.

Ambas bailavam naquele salão,
Uma dizia sim e a outra não,
A tristeza rodopiava,
A bailarina saltava.

Entres seus passos havia solidão
Mesmo que ele a observasse,
Mesmo que ela não o notasse,
Tocaria a desolação.

Seus olhos como o espelho
Refletiam sua alma sombria
Ela olhava para o velho
E satisfeito, ele sorria.

Ninguém mais sabia
Quem chorava, quem sofria,
Todos eram prisioneiros
Da mesma agonia.
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