Pesquisar este blog

quinta-feira, dezembro 15, 2011

de seda
























quem dera tivesse acabado ali
quem dera tivesse acabado

hoje, caminho só pela vida
e os olhos todos me pedem
em vão e seguem destruindo
asfaltando estradas em sonhos
trincheirando suas
entradas sobre mim

sem lirismos nos passos
corro até onde o cansaço do céu
encontrar o voo do abismo

compartilho lembranças ruins
com aqueles que roubaram
meu vestido mais-que-perfeito
e devassaram entranhas do porvir
mal sabem que não tenho motivos

mas trago um sorriso secreto
entre meus seios
que não se olham
que não dizem nada
nada além que o antepasto
do meu desespero

deveria ter acabado ali.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

irrelevante


















é uma revolta concreta
uma dor ereta
que penetra, estupra

um vômito atônico
no mar de incertezas
reviro-me em poesia

uma batalha perdida
cada luta um verso
vencido, atônico

um atar de nós que não fiz
em distâncias que não percorri
de caminhos que desconheço

mas nem assim, cresço
quanto mais sou
menos me reconheço


vago em cantos
que não sou meus
utópicos, impróprios


sou gozo em primeira pessoa
do plural
calado, inválido.

terça-feira, novembro 15, 2011

corpo celeste























como astro de luz que teima
ascende por onde é frio
atreve-se desconhecido
recolhe ânsias alheias
em castelos bélicos
em cinzas que evaporam
porque veio para ser livre

e como um cometa
rasga os céus
de fevereiro a fevereiro
deixando-se feito rasto
reluz sêmen da vontade
e não cessa, brilha

não era para ser
não era
a vida é de nunca
acostumei-me com dores
elas me fazem companhia

há períodos que me vem
nem raio de luz
nem trovão
de meia estação

hospeda-se completo
entre amplexo e átrio
e feito milagre ateu
faz manhãs cantarem
dentro de um peito calado

o meu.

quarta-feira, novembro 02, 2011

apartheid
















ele seguirá meus passos
nessas ruínas sitiadas
onde quer que eu vá
nessa cidade de pedras


vazio e esgotado
nesse tempo lento
de um abraço ausente
suportará a desordem

sem sucumbir ao caos
as ideias sempre vêm
tarde demais
meu anjo espreita

sua imagem acalenta-me
sua voz me acalma
e seguirei meus sentidos
sem sentir meu coração.

sábado, outubro 15, 2011

estrangeiro






















que dizer a esse homem que amo
e que desconheço
que não beba de minha essência
que não leve meus frutos?

que me tome, estrangeiro
feito doce escrava
serei pão e vinho
e contenda divina
enquanto me quiser
seios e ancas

desconheço as águas
que o trouxeram, meu amado
mal sabia dos versos
que jaziam em seu traçado

quantas mulheres não importa
furtivas são as portas
os velos de um querer
sem passado
onde não há hora
para um coração tardio

meu amado,
não quero seu país
desejo-lhe estrangeiro
invasor dessas terras
por hora, improdutivas.

domingo, outubro 02, 2011

estágio carmim
























tenta sorrir
e como um objeto
arde agora

pupilas rasgadas de dor
manchas e manchas
sobre o veludo

findo o combate
enfim alcança
o estágio carmim.

quinta-feira, setembro 15, 2011

estátua de sal
























a imagem endurecida
mal chora trancada em si
na esperança de se achar

[calo]
trago aqui
cada palavra
cada respiração
cada som
toda a sensação
rubra, rubra, rubra

[vem]

e que minha retina
te cubra ainda dilatada
e que seus poros
jamais se esqueçam

[garoe]

que teu sorriso
me é bastante
enquanto molha
meu corpo


[vê]

que não há limites
entre o que é nosso
que a loucura é sã
enquanto unos

[sente?]

sexta-feira, setembro 02, 2011

estática

























olhos perdidos
melancólica

pareço ter alma
mas sou oca
tal autêntica obra
de Ron Mueck.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Carta para Ortros

























quis o destino dar-te duas cabeças e um só coração
ao fazer isso te fadou a procurar amores racionais
em qualquer balança se equilibrariam teu amor e tua razão
seria perfeito se isso não fosse tão doloroso

ser um cão bicéfalo, com rabo de serpente
e aparência estranha sempre em alerta
pronto para atacar com tuas verdades
não te salvou de si mesmo, nem de teus sentimentos

nada conseguiu evitar que trouxesse tuas verdades
como mantos de proteção e pureza
como estandarte e brasão de guerreiros
que são avaliados pela honra de espírito e força de luta

de onde venho tuas verdades valem muito pouco
no máximo comprariam vários inimigos
e contas de olhos malfeitores e línguas maledicentes
nasci no meio de invencionices crônicas
numa terra onde só vale a mentira
e as representações grotescas da verdade
nada fácil de equilibrar

olho para teu irmão, Cérbero, o cão de três faces,
aquele com três pares de olhos e orelhas
e com três mordeduras à mostra, prontas para destroçar
qualquer coisa que venha contra suas regras
só aquele cão que guardava Hades
estava pronto para o mundo

e ali, em Eritéia, bem longe dos portões do inferno
fora domado e domesticado por Gerião
um agricultor que te fez pacífico vigia de rebanhos

Hércules, em seu décimo trabalho, ao golpear-te mortalmente
mal supunha quão grande e sensível era seu coração
se o soubesse, não ousaria destroçar o brilho de tua pulsante alma
que ascendeu aos céus como Sírius a contar histórias

a mais bela e brilhante estrela do céu noturno

e ao descobrir-te tão intenso e verdadeiro
naquele céu onde cometas se travestiam de estrelas
onde corpos celestes embusteiros se jogavam
desaprendi a dividir olhares e choro

naquela noite descobri quão pobre seria meu destino
uma pobre Sherazade a contar histórias sem fim
numa dessas mil e uma noites.


(resposta para Carta para Úrano, de Wile Ortros:
http://wileortros.blogspot.com/2011/08/carta-para-urano.html )

segunda-feira, agosto 15, 2011

arauto





















navegaria
através de tempestades
se não fosse tão incrédula
e presa a esse tempo

se o fizesse
por ti, meu amado
minha nau não
teria porto algum

o oceano me levaria
a vastas latitudes
e me esqueceria
das longitudes

sem bússola me perderia
na imensidão do caos
e a arrebentação
me enganaria

as âncoras
seriam içadas
só no fim

náufragas as palavras
só fariam par
com as pedras
e algas no fundo
do mar

ali sim,
o mais belo silêncio
e o vazio igual a espera
desse momento
nós.

terça-feira, agosto 02, 2011

Indomável






















Minha alma transpirava estrelas
Procurei, mas não pude vê-las,
Estava de olhos fechados a te sentir
Ainda sim podia senti-lo sorrir
Dentro de mim.
Um vulgo jardim se formava
Enquanto estava despetalada
Em teu leito ferido
Indomável
Como uma onda de luxúria
Como um vulcão entre minhas pernas
Como um vendaval de sentidos
Enchia-me teu negro noturno
E com astros luminosos
Imperadores, incandescentes,
Que nos faziam átomos
Na conjugação de verbos imperfeitos.

terça-feira, julho 05, 2011

paramare






















batizei telas, cores, vielas
com seu nome
vinhos, sambas, beijos
com seu sobrenome

jamais quis tanto alguém
esta é a canção
única que compus
paramare pelo mundo afora

e as nuvens, pobrezinhas
seguem sufocando
por serem inconstantes
breves bocejos

eu culpo esta cidade
as pedras surdas
e seu excesso de
palma e prego

enfim estou de volta
inteira como fui
como não deixaria
de ser, não nego
dias e noites paramare.

sábado, julho 02, 2011

fêmea fértil
























suas palavras me são gametas
copulam impunes
em minhas orelhas
sob a trama negra de nossos pelos

revida silêncio com substantivos
versos ferinos e doces apelos
quando me calo se vinga
beijando-me até que eu derreta

aqui quase ávida meio faminta
sinto-o deitado sob minha centelha
enfim, deixa-me só em gozo altivo
cheia de sêmen
grávida de sua língua

domingo, junho 05, 2011

a conta exata























nem olhe para trás
vá, meu amor
tanto faz
se o que me move
é apenas o lastro
o andar de fasto
voltar ao passado
um tempo que não vingou

esse céu já não me serve
nem de sol, nem de abrigo
então já não fique
nem me arraste contigo

tantos rumores
gritam desgovernados
contando como novo
aquilo que bem sei:
"acabou, acabou,
acabou".

e se ainda se importa
com meus passos
saiba que aqui
tenho pedaços
de tudo que se passou

a vida segue
e ganhando ainda
se perde
aquilo que mais amou
vá e não chora
apenas ignora
todo sonho que um dia
nos pertenceu

quinta-feira, junho 02, 2011

do amor e das ostras



















ele jurou não a machucar
mas os grãos de areia
vinham com a corrente
e por um tempo
feriram e mutilaram

quando começou o prazer
onde terminou o invadir
há um limiar confortável
entre ambos?

a pérola do sentir respira
dentro de conchas
e adorna macia
o colo da diva.

segunda-feira, maio 02, 2011

doloso























sei dessa angústia
tardia que habita
meus espelhos
matinais

e dessas paisagens
disformes retratadas
em papel de embrulho
descartadas à revelia

por ceder ao alheio
esmoreço em dolos
quantas faces
de Frida encontrarei
em vias expressas
e passeios públicos?

sábado, abril 02, 2011

destruidor...























a geada do porvir
é impiedosa
e talvez tome seu visgo

mas se sobreviver a tudo
com vigores primaveris
cortarão seus talos

venderão mais que essência
para enfeitar mortes
amores e regalos pueris

e se seus jasmins imperam nobres
em seus viveiros de salamandra
deixe-os de sobreaviso!

quarta-feira, março 02, 2011

cravei-te
























em minha
boca falida

que beija-te o falo
e quer-te a vida!

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

aflita























das juras sobraram
as falas não ditas
os olhos nos olhos

como criança que grita
proteja-me, amor!

o que vou fazer agora?
já te confio
já sabendo que seremos

eu, você e a demora

quinta-feira, janeiro 20, 2011

despiste

























não tentei me achar
e várias vezes me perdi
de tantas formas
que por acaso
descobri fórmulas
de me esconder

não há estrada amarela
com tijolos de ouro
para marcar caminhos
e sigo nômade
com sapatos vermelhos
e quando me achar
volto para casa

domingo, janeiro 02, 2011

subentendido
























doeu, eu sei, mas isso é ter força
doe esse intento feito tinta
em tela nova
deixa pra pensar
amanhã pela manhã

vem povoar meus pensamentos
correndo o risco de ser abstrato
que amores anteriores foram
os atuais são
e os futuros virão

deixa a vida seguir seu rumo
não tem mais sentido o passado
vem que as coisas urgem
e estar livre é apelo antigo
para um presente que nos tem.