Mar
Tudo era tão silencioso
Ouvia ondas quebrando
O tempo ali parecia ter parado
Conseguia ouvir também
O som de tambores do peito ansioso
Fazendo serenata para o estrangeiro
Não era dia, não era noite,
Cada coisa, cada criatura trazia oferendas,
Ao recém chegado.
Sentado nas pedras
Ou debaixo d’ água
O mar fazia dos meus olhos
Espelhos visíveis.
Estava fascinado com tamanha
Magnitude e vastidão inesquecíveis.
As ondas quebravam cada vez mais perto,
O mar chamava-me para dançar.
Não era dia, não era noite
Via todos os peixes nadando sincronicamente,
Bailando freneticamente.
Flamejavam sentimentos
Tudo era tão calmo ali
Ergui-me aos poucos
Exuberante de vida, antena de sentidos
Que não eram únicos
Pois o mar estará eternamente refletido
Em minhas retinas.
Mar II
Deixo fluir a emoção
Exprimo gestos absurdos
Enrosco-me na areia
Envolvo-me na liberdade
Lanço meu corpo cálido no ar
E permito-me cair,
O vento sudeste
Lentamente toca a pele, a face.
Tudo lhe é permissível
Fecho os olhos e absorvo o silêncio
Forma-se então um caminho imaginário
Luminoso, radiante,
Executa-se um canto hipnótico
Expressa-se em minha alma quieta
Que apenas reflete o mundo em meu seio
Espelho, espectro...
Terra, água, fogo, ar, mente, sentimento.
O encanto toma conta do ser
Que sente-se pleno em sua
Autotransfiguração abstrata,
Que alivia e capta a força
Emanante e interiorana.
E aquele silêncio agora sepulto
Suporta um instante imortal,
Onde soa forte o coração,
O sangue, o pulso, o impulso.
Esquecendo o mundo
Um mundo moído que mofa,
Mofa, molda formas de vida,
Vida morta, amorfa.
Possuo apenas emoção
E ondas, apenas.
Mar III
Com os pés cheios de areia
Sentimentos pulsam plenamente
Visão liberta,
O mar e sua hospitalidade,
Suas vozes, seus deuses,
Seus estranhos mortos.
Além do horizonte,
Ele murmura,
Todos eles murmuram...
São vozes diferentes
Sob o nevoeiro denso e silencioso.
E o coração encouraçado iça a vela
Transforma-se em caravela
E penetra nas ondas,
Em suas idas e vindas.
E nesse azul marinho
Bailando em minhas retinas
O mar murmurava,
Na sua maneira doce
De se jogar entre as pedras,
No seu azul imenso e profundo,
É rasgado pelas esquadras,
Pela caravela
Que é tumbeiro,
Carregando lembranças
Que contam do tempo
Aborrecidas, e até esquecidas,
Mas o turbilhão é violento,
Sem piedade,
Lança a embarcação contra os recifes
E estes estilhaçam o casco,
E o coração fica à deriva
E passarão séculos para reencontra-la.
Jaz agora extirpada,
Ao relento, há pouco abandonada.
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ciranda
Há um ano