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sexta-feira, março 31, 2006

Vê a noite que caiu em teu corpo frio
Sente o manto do vazio que toma teu ser
Venha e despose essa serva
Que só viveu por ti
Beija a boca seca de quem já foi
Sem me perceber, e sonha,
Vai te sem júbilo,
Vai te sem drama
Tome como cárcere
A terra, as pedras,
O pó de teus antepassados,
Vai-te.
E não abra teus olhos
Para espiar minha dor
Nem veja teu filho gritar
Em meu ventre,
Nem sonhe com o que seria
Ficar aqui.
Conserve sempre
Esse rosto calmo
Diante de minhas adversidades
Não sonhe meus sonhos
Pois sempre foram tão teus,
Vai-te.
Faça uma ode a tua solidão,
Não estou só...
Velei teus olhos sobre
À noite de lua nova
No vale dos esquecidos
Chorei teus olhos
Toquei tua boca
Prostrei-me junto de ti
Curvei-me em ti, e senti os ecos de tua alma,
E agora, peço,
Vai-te.


Agradecimentos especiais ao fotografo Paulo Brasil, autor da fotografia que ilustra meu poema. Você poderá ver mais trabalhos do Paulo Brasil no endereço:http://www.flickr.com/photos/tags/paulobrasil/
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS E A PROPRIEDADE INTELECTUALCopyright © 2006. É proibida a venda ou reprodução de qualquer parte do conteúdo deste site.Este texto está protegido por direitos autorais. A cópia não autorizada implica penalidades previstas na Lei 9.610/98.

quinta-feira, março 30, 2006

Ainda sonho com os moinhos de vento
Ainda viajo a galope no trote
Do cavalo de Quixote
Ainda que imprudente tento.

Não abandonarei minha insanidade
Minha luta pela loucura sã
Pela divagação artística, pela utopia,
Pois são elas que me sobram.

Nunca me digam que estou morrendo todo dia
E que meu sonho, minha alegria são mentira.
Deixe-me acreditar.

Que ainda estou vivendo feliz e louco
Que há vida em meu coração rouco
E que ainda há por que lutar.
Agradecimentos especiais ao fotografo Paulo Brasil, autor da fotografia que ilustra meu poema. Você poderá ver mais trabalhos do Paulo Brasil no endereço:http://www.flickr.com/photos/tags/paulobrasil/
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quarta-feira, março 29, 2006


As nuvens teimavam em pintar o céu
E o vento oscilava entre teus cabelos
Negros e brilhantes como a noite
Que habitava teu corpo
Olhos fechados, imóveis,
Em tua cabeça arrancada
De teu pescoço.
Gentis as mãos pousadas
No chão frio, sem os braços.
E os pés dilacerados
Um para cada lado
Soltos de tuas pernas.
Enfim era uma cena encantadora
Um mar de sangue alheio
Mas já havia te avisado
Que eu escolheria a minha hora
Pedi que não tentasse me levar
Por que era tão insistente
Por que não foi embora
Apenas me vinguei de tuas mãos
A me sufocar
De tuas pernas a me apertar
Dos teus cabelos a me cegar
Mas ainda perdura a dúvida
Quem era a bela,
A paixão ou a morte?
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terça-feira, março 28, 2006

Vertigem

Socos absurdos no ar
Um mais ser que estar
Olhos vesgos embaralham a visão
Sente náuseas incontroláveis
Vomita seu interior
E berra pro cosmos toda sua frustração
Está sem eixo
Sem equilíbrio
Talvez meio vivo
Ou caído no chão.
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Que venha o homem
Com suas pernas finas
Como se soubesse o que é ser
Que venha também
A mulher
Como se soubesse o que quer
Que venham todos os bichos
Em roupinhas de algodão
Seus brinquedos
Seu torrão
Com suas lanças pontudas
E dentes cariados
Venham os banguelas
Que nem servem para mascar
Com suas vidinhas toscas
Suas jóias foscas
Seus dizeres de poder,
Santa ignorância.
Como ter o que não conhece?
Por que acreditar no que não vê?
Dançam em torno de sua fogueira
Fazem sua guerra
Lavram sua terra
E perpetuam sua prole
Não têm mais o que fazer.
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domingo, março 26, 2006

Rubi
(epitáfio para um amor antigo)

Virgem carne pura
Das frutas, a primeira madura,
No teu rubro vivo
No teu fulgor ativo
Cai a terra,
Deixa enterrar-se,
Encharca-se de mundo,
Até ao teu máximo, profundo.

Não deixando perder a noção,
Mas divagando em tua própria dimensão.

Ah, outrora doce e viçoso,
De aroma inesquecível,
Jamais degustado,
O fruto intocado.
Nenhum beija-flor teve o prazer
De sugar-te o néctar ao florescer.
Jaz agora no leito inerme
Ferido e abocanhado por vermes.
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quarta-feira, março 22, 2006

Antitérmico, analgésico,
Anfetamina, antidepressivo,
Tudo que é corrosivo
Para aliviar nevralgias,
Dores de viver...
Sedativo paliativo reativo
Placebos para matar o tempo,
Para curar da vida.
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segunda-feira, março 20, 2006

Vou vomitar meu mundo podre
Sobre suas caixinhas de música
Quero que morra,
Você e suas rimas baratas
Suas falsas poesias de amor
Seus sonhos estilizados
Caros, como vinho de quinta.
Não quero referências suas
Quero estar totalmente nua
Quando o mundo me olhar
Não quero suas condolências
Nem suas decência
Dê-me seu desprezo
E aliviará minha dor
Minha ânsia.
Por hora,
Vou quebrar seu mundo de cristal
E depois te dizer
Aí, foi mal.
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sexta-feira, março 17, 2006

(ele)
O que vê agora
Neste êxtase
Neste simulacro do real,
É a beleza e a leveza dos anjos,
Ou o escárnio de demônios?

(ela)
Não vejo, estou vendada,
Liberta de meus olhos aflitos,
Sinto-me em um sonho que paira
Entre a singela sentença angelical
E o delírio mais profundo e violento.

(ele)
Como nada vê
Nesta orgia de sentidos
Nessa privação da luz,
Percebe a entrada da vida,
Ou a invasão da morte?

(ela)
Sinto teus dedos doces,
Passeando sobre meus lábios,
Tua boca faminta em minhas carnes moles
Uma loucura ainda discreta
Num suplício inefável da ansiedade.

(ele)
A inquietação que te toma
Abateu-se sobre mim,
Não sabe quem sou, nem sei quem és,
E são meus toques vigorosos que sente
Teu ouvido é meu oratório, te desejo.

(ela)
Tua voz atravessa meu corpo
E toca meu sexo
Amplifico-me em tua boca
Neste ritmo contínuo e prazeroso
Desejo teu falo, meu gozo.

(ele)
Penetro teu corpo e tua alma
Sua saciedade me liberta e acalma
Quero teu cálice e tua fruta
Quero tomar teu gozo
E lamber tua gruta.
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terça-feira, março 14, 2006

Vida

Vida que arrasta
Meus dias
Que afaga minha alegria.
Vida que voa com os ventos,
Que é a roda do tempo,
Que faz a rosa-dos-ventos,
Que leva e traz momentos,
Bons e ruins.
Vida que arde em mim
Que a cada dia
Aproxima-se do fim.
Vida latente, vívida velada.
Que se verga ao destino
Que troca meus sonhos de menino
Pelo gosto amargo do fracasso,
Que troca o laço de fita
Pela moça bonita
Refletida no espelho
E pelas rugas do tempo.
Vida, minha vitória,
Meu cansaço,
Meu nó, meu laço,
Versados no meu peito,
Meu direito e avesso,
Verso e reverso
De tudo que conheço
Que a morte é coisa da vida
E a vida é coisa da morte.

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segunda-feira, março 13, 2006


Está suspenso entre o bem e o mal
Flutuas lúgubre,
Entre o jugável e o tangível
Suas têmporas sábias,
De tão sábias chegam a ser belas
E seus olhos azuis apenas contemplam
O inimaginável.
Não é alguém que brota
Nos sóis matinais,
Nem nas luas soturnas,
É Saturno, Urano, quem sabe...
É além do que sei,
Do que compreendo.
Está além dos jardins,
Das florestas,
Das grotas,
Dos coqueirais,
Dos cerrados,
Dos manguezais.
É a própria paz,
Traz em si uma nobreza tocante
Que faz ferver as idéias,
Mas palavras, adjetivos parcos,
Superlativos tendenciosos,
Não contemplarão seu ser abastado do mundo
E sendo assim parece-me inútil
Dizer-te o que é indizível,
Inalcançável.


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domingo, março 12, 2006

Indomável

Minha alma transpirava estrelas
Procurei, mas não pude vê-las,
Estava de olhos fechados a te sentir
Ainda sim podia senti-lo sorrir
Dentro de mim.
Um vulgo jardim se formava
Enquanto estava despetalada
Em teu leito ferido
Indomável
Como uma onda de luxúria
Como um vulcão entre minhas pernas
Como um vendaval de sentidos
Enchia-me teu negro noturno
E com astros luminosos
Imperadores, incandescentes,
Que nos faziam átomos
Na conjugação de verbos imperfeitos.

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sábado, março 11, 2006


Rosas murchas a me velar
Cadáveres de rosas
Enfeitam meu funeral
Aguardam emocionadas,
Afoitas, ansiosas,
O confronto final
Entre o larval e o visceral.
Cantos de luto para orar
Soluços e gritos num chorar,
Não percam seu tempo
Infames,
Não cantem à luz
Por que sou das sombras
O que me sobrará
É o torrão que cada um
Hei de me dar.
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sexta-feira, março 10, 2006

A agonia berra, grita em mim,
No entanto, você a alimenta mais uma vez.
Até onde levarei essa dor comigo?
Fujo, mas a angústia está sempre aqui,
Tomando-me como abrigo
Enquanto odeia-me, atormenta-me,
Então me entrego.
Então me tome, me abrace até eu dormir.
Agrade-me com sua blasfêmia,
Ampare-me com sua maldição,
Satisfaça-me com sua transgressão.
Não posso fugir de algo que está em todo lugar
Rompo o casulo que me guardava
Então me entrego.
Mas tome cuidado
Sentimento ferido
Transforma-se nesta nódoa

Que mancha minhas asas,
Batize-me e estarei limpo
E essa dor nos redime?
Abrace-me até que tudo passe,
Então me entrego.
Não quero seu controle
Conte-me por que me escolheu
Não quero sua ganância,
Por que eu?
Quebrei-me em pedaços para compensar
Mas a dor não repara nada.
Então me abrace até sufocar
Então me entrego.
E não há mais há sofrimento
Nem preocupações
Posso me permitir
Pode haver mais do que sei
Poderei ser livre
Encontrei você
Então me entrego.

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quarta-feira, março 08, 2006





E viva a vulva!

O primeiro contato material que tive com esse órgão magnífico foi no dia que nasci, não lembro das pressões que me fez na cabeça, mas sei que minha mãe gritou, e gritou tanto, que até hoje quando se fala de meu nascimento, lembra-se que nasci às quatro horas da madrugada e que os gritos de minha mãe acordaram todos, no pequeno hospital. Demorei um pouco para nascer, talvez por pirraça, pois desejaram durante a gravidez inteira que eu fosse um menino, e a decepção de minha mãe após a dor deve ter sido grande, não só por ser uma menina, que pesava pouco mais de dois quilos, mas por que provavelmente um dia eu sentiria as mesmas dores que ela, mas nem sei se ela se lembrou disso.
Desde muito pequena, e eu me lembro, era muito prazeroso tocar nela, e é até hoje, mas só descobri que tinha vulva aos quatorze anos, e acredito que se fosse um homem, não estaria escrevendo uma narrativa assim, talvez estivesse contando sobre minhas incríveis experiências sexuais com uma prima, ou uma colega de sala. Aliás, falar da vulva, de sexo, para as mulheres ainda é um tabu. É possível imaginar como era no colégio de freiras que estudei quando era menina-moça, mas sempre fui desbocada, nunca me enquadrei nas regras, e quando matava aula, namorando no pátio ou no banheiro, e era descoberta punia as freiras com perguntas desconcertantes sobre sexo e era divertido ver suas reações de vergonha e culpa.
- Será que as freiras não têm vagina?
- Não se tocam ou fazem sexo?
Sei que as coisas não eram bem como eu imaginava e que as freiras não eram tão virgens assim, mas adorava provocações de cunho sexual, e toda a sexta-feira o padre ao colégio e éramos todos obrigados a confessar tudo, e reconheço, me apetecia mais a confissão e as feições do padre que as provocações às freiras.
Sei também, que o desenvolvimento de todos os meus órgãos e músculos de meu corpo dependem dela, sou visceral, e minha vulva é parte fundamental do meu receptáculo de sentidos e percepções.
Perdoem-me os puritanos, ou os que desconhecem do poder ser mulher, devo dizer que existem mulheres que ainda não sabem que têm esse poder, ouso dizer que não sabem nem que têm vulva. Peço perdão por ser clara e não poupar seus sentidos, do desconforto que posso causar com meu relato, mas parece-me necessário. Posso algum dia mudar de idéia e deletar toda essa narrativa, como posso concordar com ela eternamente.
Quando era mais jovem diziam que não era desse mundo, que tinha parte com aquele, com o malvado, meu olhar flamejante que parecia saltar dos meus olhos negros que disfarçavam certa frieza, eu fui fria como uma cobra, e quente como a brasa, trazia em meus lábios apenas aqueles sorrisos cínicos por ficar realizada na desgraça alheia, e ainda sou assim, no auge de meus trinta e um anos.
O que posso é me considerar uma afortunada, pois descobri jovem o poder de meu cérebro maquiavélico, de minha boca nervosa, e principalmente o poder de minha vulva, sim, pois, não adianta ter um cérebro brilhante, uma boca desaforada e uma vulva virgem.


A ilustração dessa vez é de minha autoria, não é meu ofício, mas estou aprendendo.

Peço desculpas pela falta de espaçamento do texto, pois não consegui colocá-los neste blog, por total incompetência minha.

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terça-feira, março 07, 2006

Vento

Vento que leva
Minhas palavras
Que apaga minha voz.
Vento que afaga pensamentos
Que leva o outono,
Que traz o inferno.
Vento que faz dançar a chama,
Que chama,
Que sopra a vela,
A vela da vida.
Vento que é sopro sutil,
Sopro da vida, gênese.
Sopro na vela
Vento nas pedras
Som das ondas...
Vento que leva as palavras,
Sopro de vozes.
Som carregado pelo vento
Vento que leva pensamentos
Num sopro ao relento
O sopro e o tormento.
Sopro que apaga a chama
Vento que atiça o fogo
Som da vida
Grito
De morte.
Sopro na vela da vida
Vento na face da morte.

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Pai...

Faça com que a saudade seja cada dia mais branda

E que quando não souber para onde ir que sua força
esteja em meu coração
E que quando sentir falta da sua mão amiga
que outra mão me segure firme
E que quando sentir falta do seu afago
que o vento toque suavemente meu rosto
E que quando sentir falta do seu abraço
que o sol traga o calor de seu colo amigo
E que quando sentir falta do seu cheiro
que o perfume da manhã se faça
E que quando sentir falta da sua presença
que tenham as suas palavras para me confortar
E que quando não sentir mais sua falta
que já esteja com você...
Epitáfio para meu pai: Edson Marques, falecido no dia 15 de abril de 2001.
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sábado, março 04, 2006

Uma vida cinza
Escrita com mãos pálidas
Com unhas carmim
Os olhos apáticos
Poemas traumáticos,
Linfáticos,
Catatônicos...
A miopia desconhece
A vastidão inóspita
De uma vida entre o negro
E o nada.
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