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E viva a vulva!
O primeiro contato material que tive com esse órgão magnífico foi no dia que nasci, não lembro das pressões que me fez na cabeça, mas sei que minha mãe gritou, e gritou tanto, que até hoje quando se fala de meu nascimento, lembra-se que nasci às quatro horas da madrugada e que os gritos de minha mãe acordaram todos, no pequeno hospital. Demorei um pouco para nascer, talvez por pirraça, pois desejaram durante a gravidez inteira que eu fosse um menino, e a decepção de minha mãe após a dor deve ter sido grande, não só por ser uma menina, que pesava pouco mais de dois quilos, mas por que provavelmente um dia eu sentiria as mesmas dores que ela, mas nem sei se ela se lembrou disso.
Desde muito pequena, e eu me lembro, era muito prazeroso tocar nela, e é até hoje, mas só descobri que tinha vulva aos quatorze anos, e acredito que se fosse um homem, não estaria escrevendo uma narrativa assim, talvez estivesse contando sobre minhas incríveis experiências sexuais com uma prima, ou uma colega de sala. Aliás, falar da vulva, de sexo, para as mulheres ainda é um tabu. É possível imaginar como era no colégio de freiras que estudei quando era menina-moça, mas sempre fui desbocada, nunca me enquadrei nas regras, e quando matava aula, namorando no pátio ou no banheiro, e era descoberta punia as freiras com perguntas desconcertantes sobre sexo e era divertido ver suas reações de vergonha e culpa.
- Será que as freiras não têm vagina?
- Não se tocam ou fazem sexo?
Sei que as coisas não eram bem como eu imaginava e que as freiras não eram tão virgens assim, mas adorava provocações de cunho sexual, e toda a sexta-feira o padre ao colégio e éramos todos obrigados a confessar tudo, e reconheço, me apetecia mais a confissão e as feições do padre que as provocações às freiras.
Sei também, que o desenvolvimento de todos os meus órgãos e músculos de meu corpo dependem dela, sou visceral, e minha vulva é parte fundamental do meu receptáculo de sentidos e percepções.
Perdoem-me os puritanos, ou os que desconhecem do poder ser mulher, devo dizer que existem mulheres que ainda não sabem que têm esse poder, ouso dizer que não sabem nem que têm vulva. Peço perdão por ser clara e não poupar seus sentidos, do desconforto que posso causar com meu relato, mas parece-me necessário. Posso algum dia mudar de idéia e deletar toda essa narrativa, como posso concordar com ela eternamente.
Quando era mais jovem diziam que não era desse mundo, que tinha parte com aquele, com o malvado, meu olhar flamejante que parecia saltar dos meus olhos negros que disfarçavam certa frieza, eu fui fria como uma cobra, e quente como a brasa, trazia em meus lábios apenas aqueles sorrisos cínicos por ficar realizada na desgraça alheia, e ainda sou assim, no auge de meus trinta e um anos.
O que posso é me considerar uma afortunada, pois descobri jovem o poder de meu cérebro maquiavélico, de minha boca nervosa, e principalmente o poder de minha vulva, sim, pois, não adianta ter um cérebro brilhante, uma boca desaforada e uma vulva virgem.
A ilustração dessa vez é de minha autoria, não é meu ofício, mas estou aprendendo.
Peço desculpas pela falta de espaçamento do texto, pois não consegui colocá-los neste blog, por total incompetência minha.
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